As férias de verão chegaram ao fim, carnaval, festas e a última chance de fazer a renda que sustentaria as famílias durante o ano. Veio o Ano Novo e as tentativas desesperadas de movimentar o comércio e o turismo durante o verão de Regência, trouxeram o cantor Zé Geraldo e até o Falamansa debaixo de muita chuva; amantes de Regência bradaram guerreiros, com a emoção de ter em sua Vila amada, os shows mais Vips do verão capixaba; regados de gente bonita, alto astral e muita paz; características típicas de Regência que fechou as férias com os foliões pulando atrás da Fubica; terminando com as atrações na pracinha. Regência sempre linda e encantadora, suas ruas estavam cheias e as casas lotadas. Porém, o turismo que os comerciantes da Vila de Regência receberam durante o verão, foram o espelho da tragédia da lama de rejeitos e da crise econômica do país. Mesmo com a Vila cheia, a grande maioria das pousadas e dos comércios em geral não rendeu nem 30% daquilo que renderiam em tempos normais com o rio e com o mar. Muitos turistas alugaram casas ou ficaram na casa de conhecidos e parentes, trouxeram de tudo, diminuindo o consumo na Vila, deixando também de frequentar restaurantes e bares, outros ficaram hospedados poucos dias, ou vieram no bate e volta, gerando a falsa impressão de que a Vila de Regência estava toda cheia, quem veio até Regência e conhece o movimento local, viu que muitos campings e pousadas estavam vazios e muitos comerciantes estão amargando um grande prejuízo; prejuízo esse que começou muito antes do verão, com a chegada da lama e pelo visto não tem data pra acabar.
A contaminação da lama ultrapassa o rio e o mar e contamina as pessoas, fazendo com que cada um lute por seus interesses; conflitos de opiniões são criados entre os que dizem que está tudo normal e nada mudou, e os que manifestam seu sofrimento mostrando que foram diretamente atingidos.
A falta do rio e do mar não tirou somente o sustento de surfistas e pescadores, tirou a área de laser de muitas crianças da Vila de Regência, que durante as férias de verão, tinham nas lagoas da foz do Rio Doce, no rio e no mar seu parque de diversão, uma Vila tão linda como Regência comemora o dia das crianças com muito amor, com 300 casas e quase 300 crianças, é como se tivesse uma criança em cada casa, mais não temos um parquinho, nem na Creche Municipal, nem na Escola Estadual, nem em espaços públicos, e sem opção as crianças tem na pracinha e nas festas de verão sua diversão e sua opção de férias, em meio as madrugadas, bebedeiras e tudo mais que a noite oferecer; que as entidades, o governo e os responsáveis não se esqueçam das crianças e deixem opções concretas, para que festejar não se torne um problema social para as futuras gerações.
Agora todos vão embora, e Regência linda e solitária fica, a espera de mais uma festa pra animar a galera, e para o surf e os que vivem do surf nem a festa, nem o parquinho, nem o vento terral por enquanto, não trarão de volta a nossa onda segura.
Nesse momento todos se calam e a melhor política é deixar o tempo passar pra ver se limpa a lama contaminada, o governo Federal, Ministra do Meio Ambiente com seu canal aberto que está fechado e seu coordenador de tudo em Regência, o Governo Estadual, os órgãos ambientais responsáveis e algumas entidades locais, e gestores, esses serão talvez os maiores e únicos beneficiários dessa estratégia. A propaganda da imagem positiva e mostrando sempre o outro lado, tem favorecido realmente o outro lado, enquanto para o lado que sobra, que é a natureza e aqueles que foram diretamente atingidos, resta aguardar até que a justiça brasileira, não se perca em meio a tantos processos, multas e ações judiciais sem nenhum resultado, e pare de acreditar na falsa imagem que tudo está normal com as pessoas, aceitando que o tempo limpe a lama e a sujeira, carregando pra bem longe a verdade e deixando com que todos os que foram atingidos diretamente sofram o resto de suas vidas com essa descarada injustiça, aguardando por audiências públicas para comprovarem seus prejuízos.
Governos e órgãos ambientais abriram suas portas para a Empresa Samarco, suas economias se desenvolveram, e sabiam dos riscos, iludiram as pessoas para tomar posse de suas terras, criaram leis, arrecadaram impostos, tiveram todos os lucros possíveis, foram pagos pra isso, são parceiros da Empresa, e com a imensidão do problema todos acreditam que retornar ao trabalho e a produção da Empresa diminuiriam os prejuízos, entrando claramente em conflito com qualquer plano emergencial que poderia ser apresentado, aumentando ainda mais a quantidade de rejeitos, e sugando a água que ainda resta; e o bota fora dos minerodutos misturados com a química no mar de Anchieta/ ES?... A Empresa está tão na lama que ela própria causou quanto o Rio Doce, sem nenhuma chance de dar garantias nem a seus funcionários, nem aos governos de que irão manter o desenvolvimento e a renda prometidos. A Empresa Samarco/ Vale / BHP, grandes mineradoras de nível mundial demonstraram a irresponsabilidade, a falta de respeito e compromisso que tem com a população brasileira e sua natureza.
Sem resposta, sem laudo conclusivo, sem um diagnóstico e um planejamento estratégico, sem organização de todos os envolvidos: governos, órgãos ambientais, justiça, as mineradoras envolvidas, entidades envolvidas; sem um cronograma de ações e organograma de gestão da tragédia, faz com que todos fiquem perdidos sem um plano emergencial, sem ninguém pra assumir a responsabilidade, e com muita incerteza.
Site Regência Surf
Texto Aline Goulart |