A última semana do ano de 2015 e a Vila de Regência tem uma programação de Reveillon de arrasar, arrasar qualquer trabalho ou investimento feito para o turismo, principalmente aqueles que trabalham com o surf, arrasar os comerciantes que ficaram sem nenhuma alternativa, arrasar com os moradores e turistas que ficaram sem nenhuma atração na pracinha, arrasar de vez com quem ainda tinha na virada de ano uma Esperança de entrar 2016 sem dever, pois são quase 60 dias de contas acumuladas por causa da tragédia de Mariana. Todos vieram até Regência, muitas reuniões foram feitas durante os meses de novembro e dezembro de 2015: órgãos públicos, comissões de políticos, poder judiciário, representantes da Empresa que destruiu o Rio Doce que na verdade nada representam, a grande  e a pequena mídia, todos com o objetivo de avaliar os prejuízos causados pela lama; quase todos sobrevoaram de helicóptero sobre a tragédia que ainda desce pelo rio, e puderam comprovar que o lugar mais verde e preservado de todo o percurso da lama é a Foz do Rio Doce, as avaliações a olhos vistos mostram o que ninguém quer enchergar e  ainda menos ouvir. Em Regência essa tragédia não dá espaço para discursos políticos, ou de geração de desenvolvimento e renda paliativos, pois aqui a verdadeira fonte de renda vinha da preservação única daquilo que foi destruído, se fazendo necessária e urgente, não só a reconstrução da natureza, mais a assistência e indenização financeira do lucro cessante de todos aqueles que sobreviviam dela.
Foram anos de trabalho e luta que desceram lama abaixo, anos que todos os moradores de Regência que verdadeiramente amam a natureza, trabalharam para moldar e mostrar ao Brasil as maiores belezas que o Estado do Espírito Santo tinham para compartilhar, belezas únicas com a forma de um diamante bruto que estava sendo lapidado a cada dia, belezas que deram forças pra enfrentar a tentativa da construção de um Porto e um mineroduto que em maio de 2015 , teve em sua natureza intocada o reconhecimento, com a licença ambiental negada.
A Fubica hoje é a maior alegria “Quem sabe sabe conhece bem...”, alegria para quem mora e conhece Regência,  a Comunidade sempre teve seu público garantido durante muitos verões, abrindo o Ano Novo até o último dia de carnaval, guiados pela Fubica Rodando nos finais de semana pelas ruas de Regência, só na enchente de 2013 que a Fubica não conseguiu chegar de barco.
Mesmo que o minério de ferro em desvalorização no mercado internacional, aqui no Brasil esteja valendo ouro a ponto de colocar a vidas pessoas em segundo plano em prol do desenvolvimento e renda de um país em recessão  segundo informam os mais conceituados analistas econômicos,  fazendo do Estado de Minas Gerais um verdadeiro queijo suíço, ainda assim, aqueles que foram diretamente afetados pelos impactos causados pela destruição da natureza com a tragédia da lama,  aqui chamados de idealistas acreditam que o Estado do Espírito Santo tem um valor internacional em sua natureza, que quando bem tratado, cuidado e estruturado, pode em dias de crise e alta do dólar, trazer também desenvolvimento e renda, somando as atividades econômicas já existentes, que  fazem do Espírito Santo o Estado que mais cresce mesmo na crise. Que a tragédia de Mariana possa servir de exemplo, e os órgãos competentes do Estado do Espírito Santo se empenhem em proteger seus Cidadãos, criando e fortalecendo as leis que nos protegem de ações que possam gerar riscos socioeconômicos, ambientais, e a saúde dos moradores do Estado do Espírito Santo, tendo em vista que as leis vigentes que protegeriam as pessoas do uso da lama como água tratada do Rio Doce, não tem parâmetros de comparação para contaminação  com materiais tóxicos e metais pesados, nem para água do Rio nem para a água do mar; fazendo com que qualquer laudo técnico seja tolerável perante as leis estaduais declarando a potabilidade da água do rio e a balneabilidade de algumas praias de Linhares, deixando com que o teste do “olhômetro” e a consciência de cada cidadão faça a sua própria segurança.
Viramos o ano com o sentimento de que nunca mais vai ser normal, por mais que tudo seja reconstruído nunca mais será tudo normal, mesmo que Fundações do Governo sejam criadas para gerir fundos destinados a reconstruir a natureza que foi destruída, sabemos que o normal não vai voltar mais, a necessidade de uma estrutura de base que seja verdadeiramente resolutiva para tudo e para todos já é um grande passo para a mudança daquilo que antes era normal. Regência não vive só da pesca, hoje grande parte dos moradores da Comunidade de Regência depende da Saúde pública, e não podem contar nem com um médico no Posto de Saúde 2 vezes por semana a mais de 30 dias, longe do Hospital a 60km de distância de Linhares; sem médico, sem renda, sem assistência do poder público concreta, sem resposta aos comerciantes que perderam sua fonte de renda no verão, sem resposta aos surfistas nativos e locais de Regência e do Estado inteiro, porém, sempre fortes e unidos, acreditando que no ano de 2016, a Esperança, a Fé e a Força, serão a maior fonte de energia para a reconstrução da natureza, das ondas, e da imagem verdadeira de uma Regência ainda melhor.
Nesse momento talvez o mais triste é saber que somos obrigados a  lutar por aquilo que já era nosso, lutar contra poderosos que arrancaram de nós nosso direito de trabalharmos e garantir a nossa sobrevivência e de nossa família, mesmo com todas as dificuldades locais e a crise econômica do país, caminhávamos com nossas próprias condições, cada um com suas metas e planos. Se nos calarmos somos ignorados e esquecidos, desrespeitados como se nunca nada tivesse sido feito aqui,  temos que lutar pela paz que nos tiraram, para defender nossos sonhos, investimentos e meios trabalho e sobrevivência; enquanto isso aguardamos por um gesto de sensatez dos responsáveis, e pela segurança de que todos os danos causados pela Empresa sejam ressarcidos, que projetos oportunistas não tirem da Comunidade inteira seus diretos em prol de poucos, e a assistência  e o apoio dos órgãos competentes  tenham ações resolutivas, assim todos vamos compreender que o compromisso de “Fazer o que deve ser feito” está sendo cumprido com a verdadeira seriedade.

Site Regência Surf

Texto: Aline Goulart